Quem tem medo da… ansiedade?
Quem não se sente ansioso que atire a primeira pedra. E não é para menos. Afinal, o quão estressante pode ser vivenciar um momento da História? Ainda mais quando se diz que essa História (a nossa História com H maiúsculo!) acabou. Com a queda do Muro de Berlim, houve um cessar de idealizações sobre novos tipos de sistemas econômicos, políticos e sociais. Não o bastante, ainda vivemos num Brasil pandêmico que perdeu mais de 600 mil vidas para a COVID-19, resultando em mais de 19 milhões de pessoas com fome, mais de 11 milhões de desempregados e mais de 11% de inflação.
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Além disso, vivemos a era do cansaço, da exaustão, de trabalhar sem ter hora para terminar. Isso tudo enquanto navegamos em redes sociais que exibem estilos de vida impossíveis de alcançar. É tudo muito extremo e se não for, tem quem nos substitua. Dito e feito, em 2019 a Organização Mundial da Saúde (OMS) liberou dados que dizem que o Brasil é o país mais ansioso do mundo, com 9,3% da população considerada ansiosa. Em uma pesquisa da Universidade de São Paulo, em uma lista de 11 países, o Brasil lidera com mais casos de ansiedade.
O transtorno de ansiedade generalizada é um distúrbio que se caracteriza por uma preocupação excessiva ou expectativa apreensiva que dura por seis meses, no mínimo. A ansiedade é uma reação considerada normal diante situações que podem ocasionar medo, dúvida e insegurança. No Brasil, vivemos uma epidemia desse transtorno, o que é, para dizer o mínimo, preocupante.
Infelizmente, falar sobre transtornos mentais ainda é tabu e derivado disso, outra epidemia: a da desinformação. A pandemia da Covid-19 trouxe à tona a necessidade de discutir políticas públicas sobre saúde mental e, mais ainda, divulgá-las para a população. O medo, insegurança, mortes e caos econômico desencadeados pelo vírus só reafirmou a importância de falarmos abertamente sobre o tópico.
Atualmente, o atendimento público e gratuito é realizado pelo SUS. O primeiro contato e acolhimento é realizado pela Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) com serviços de acompanhamento nas Unidades Básicas de Saúde e em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). No entanto, ainda há muito o que se trabalhar quando falamos de saúde mental no Brasil.
Não basta somente que essas informações de atendimento cheguem à população, mas também é preciso um trabalho de desconstrução de um assunto quase interditado, principalmente se formos considerar indivíduos mais vulneráveis, social e financeiramente. Em meio a tantas desigualdades sofridas e opressões enfrentadas diariamente, qual lugar ocupa a saúde mental em uma escala de importância? Saúde mental é saúde, mas será que essa simples afirmação é reconhecida e aceita na nossa sociedade atual? Para quem não encontra barreiras no acesso ao conhecimento, a resposta pode ser óbvia, mas quem faz as perguntas e quem as responde é muito relevante.
No entanto, há outro aspecto que precisa ser considerado amplamente: ao mesmo tempo que a ansiedade ainda é um tabu, o que inviabiliza o tratamento dos que precisam, seu diagnóstico também vem sendo muito banalizado. A facilidade com que os indivíduos se auto reconhecem “ansiosos” também atrapalha o debate sobre saúde mental, além de criar uma cultura da medicalização. Na prática, o que acontece com muita frequência são pessoas que tomam remédio sem necessidade e outros que precisam e não tomam.
Somos o país mais ansioso do mundo. Existe todo um pano de fundo por trás dessa afirmação e precisamos falar sobre isso. Está tudo bem não se sentir bem. Converse com alguém, recorra a sua rede de apoio, procure ajuda. Abaixo, alguns conteúdos interessantes que podem ajudar:
A RAPS está presente em Unidades Básicas de Saúde, Núcleo de Apoio à Saúde da Família, Consultório de Rua, Apoio aos Serviços do componente Atenção Residencial de Caráter Transitório, Centros de Convivência e Cultura, SAMU 192, Sala de Estabilização, UPA 24 horas e portas hospitalares de atenção à urgência/ pronto socorro.
Ligue 188 para falar com o Centro de Valorização da Vida, que realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio e está disponível 24 horas.
Conteúdos sobre psicologia/psicanálise no Instagram: @despatologiza; @veigalucas_; @desaguarpsicologia; @lucasliedke.
Podcasts interessantes: @paradarnomeascoisas e @podcastestamosbem.
Leitura: Gente Ansiosa de Fredrik Backman
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Tags do artigo: ansiedade, consequências da pandemia, pandemia, saúde mental, transtorno de ansiedade,